Comecei hoje. Começo agora, nestas linhas, um livro com que venho sonhando há mais de quatro anos e que agora, depoi$ de muitas hesitações, resolvi começar, mas logo pressenti que este livro, como todos os que quis escrever e escrevi, e como os milhares que não escrevi, está rigorosamente acima de minhas forças. O fato é que tudo o que li nestes últimos cinco anos sobre o que aconteceu no mundo católico, e sobre o que me parece explicar o que está acontecendo, compele-me imperati vamente, preceptivamente, a escrever este livro, não por julgá lo necessário e útil para a Igreja e para o mundo, mas simples mente por julgá-lo indispensável à completação e ao retoque do testemunho que venho deixando há tantos anos em livros, aulas e artigos. Mas, além desse imperativo de algumas retra tações que tenho impaciência de formular, não escondo o velho vezo de professor que me leva ao temerário empreendimento de buscar explicações nas águas turvas deste século. Dai os subtítulos que já tenho antes de ter o título:
RETRATAÇÕES
REAFIRMAÇÕES
INTERROGAÇÕES
E OUTROS . . . õES.
Nestas páginas de introdução, tentarei dar ao leitor algu mas explicações pessoais sobre posições tomadas, que hoje me obrigam às retratações e me estimulam à busca das causas. O tom será aqui e ali pessoal, evocativo e afetivo, porque na ver dade vou reabrir feridas, ou ferir-me onde me julgava ileso. Deixarei correr a memória sem preocupação de método e de sistematização, mas depois desse desabafo no ombro imaginá rio, de um leitor imaginariamente amigo, levantarei vôo para as terras onde todo o drama deste século se iniciou e se desen rolou, e então tratarei de esquecer-me de mim e do leitor, para entregar-me de corpo e alma à observação do registro dos fatos, que nos trouxeram tão inimagináveis calamidades.